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COMO FALAR O INDIZÍVEL

Fotos: Renata Froan | Thiago Matine / Divulgação Secultfor

//Ficha técnica

Título: Como falar o indizível

Instalação

Ano: 2020

//Especificações

Dimensões: 92 x 135 cm

Material: papel e caderno

//Texto conceitual

Criar um descompasso na realidade, fissuras que possibilitem acesso ao indizível. Esta é a minha intenção. Me aproximar da entranha, da carne viva e colocá-las para fora. Expor o avesso a partir das palavras-chaves, das linhas-trajeto e do vermelho-entranha. Esse é o meu objetivo. Essa é a minha direção. Quero causar o estranhamento. Quero falar daquilo que a racionalidade, sozinha, não sustenta, porque é isso que me move. Mas como falar do que a linguagem não dá conta? Como dizer o que as palavras não abarcam, sempre traduzem no atraso? Tais inquietações me provocam a vontade de tentar. Tentar dizer o indizível a partir da construção de um mundo entre, um mundo fantástico, onde o estranho e o grotesco sejam suportáveis, mesmo que não sejam possíveis de dar conta. Quero dar materialidade, corpo a esse mundo. Porque somente um mundo não é possível. Somente um mundo não abarca a carne viva, a entranha.

Em “Como falar o indizível” apresento parte desta minha tentativa. Na obra, exponho recortes do meu processo criativo. Escolho expor o processo, pois entendo o trajeto, o percurso como obra – ou, melhor, parte de uma obra que nunca se finda. O que me interessa apresentar não é um resultado acabado, mas o caminho e as reticências provocadas por esse caminhar. Reúno então, cadernos, anotações em papéis, rabiscos, bordados buscando compor, quase como um quebra-cabeças, um mapa que possibilite acesso a esse mundo outro que suporta o insuportável.  

Nas composições três elementos são recorrentes: A palavra. Dela me interessa o que há para além da significação, o que ela carrega de indizível. Sendo, portanto, como chave, palavra-chave, que abre portais de acesso a um mundo outro, um mundo possível. Caço palavras para trabalhá-las como parte do desenho; O desenho. Este busco experimentar, também, enquanto narrativa, texto, enquanto resultado de um processo que, embora seja da ordem do sensível, é expressão do real. Com o desenho construo linhas-trajeto, apresento o vermelho entranha, o corpo do avesso, composições que, ao se emaranharem com as palavras, começam a dizer o que não sei que sei, mas sinto que sei; Mas é o fantástico da cultura popular nordestina que arremata essa costura. Ele me é alimento, é com ele que movo o meu processo criativo. Ele é a fonte e a ponte que propicia acesso a este lugar em que o impossível não é o oposto do real e, por isso, pode ser dito.

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